IRA
O sol fustiga a ilha:
A filha grita, chama, acorda a dor do mundo.
O amor castiga o corpo:
O torpe e nu minuto espalha luz
- faísca repentina de criação emotiva.
Locomotiva adentra a noite, insensata:
Desce o punhal, vertical episódio.
Luz no matagal, fogo, traição, mira
- a ira dos deuses semi-mortos.
Centauros e minotauros se entrechocam.
Ira – que tira o sentido e sensatez!
Ira – que fira, rasgue, dilacere de vez!
Ira – a lira perverte-se, desafina.
Ira – gira e embaça os olhos da menina.
Perdoará a lágrima mas se perderá nas curvas.
As vistas turvas serão engolidas no redemoinho.
Um copo de gim, um corpo de inocente;
Coitado de mim, pobre dessa gente.
A turba, a tuba, o turbante, o tubo.
Ira – fera que dorme mãe e acorda viúva.
Ira – era após outra e período sem contagem.
Ira – mera aquiescência e pavor na chuva.
Ira – espera a esfera quem dera aragem.